Entre a Liberdade que Queremos e a Liberdade que Podemos

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Para variar um pouco, o assunto começou aqui; mais precisamente, neste tópico.

Àqueles que têm preguiça de ler ou não possuem orkut - ahm??? -, resumo que é um tópico de ironia em relação às eleições e à democracia. Apesar de não ter replicado no referido tópico sobre o assunto, quero fazer um breve comentário a respeito do tema.

É, de fato, inegável que as eleições democráticas foram responsáveis por diversas catástrofes políticas e econômicas na história mundial. Como exemplo recente, temos a ruína da economia e da ordem institucional venezuelana, após a eleição, via voto popular, do presidente Hugo Chávez. Não menos perigosa, é, pois, a tirania da maioria, como bem alertava John Stuart Mill, em Sobre a Liberdade:

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"Ademais, a vontade do povo significa praticamente a vontade da mais numerosa e ativa parte do povo - a maioria, ou aqueles que logram êxito em se fazerem aceitar como a maioria. O povo, conseqüentemente, pode desejar oprimir uma parte de si mesmo, e precauções são tão necessárias contra isso quanto qualquer outro abuso de poder"

John Stuart Mill - Sobre a Liberdade

Em verdade, muitos poucos países possuem mecanismos eficazes no controle dos anseios da maioria e, naqueles em que os vemos, há, por vezes, surpresas por parte daqueles que estariam incumbidos da função supracitada: é o caso do atual pacote do governo americano, destinado a "salvar" a economia global. O que interessa, entretanto, é um ponto completamente diverso, antagônico: qual é a validade, ou quais são os ganhos do liberalismo ao opôr-se veementemente à or dem atual? Seria uma estratégia fadada ao fracasso?

Historicamente, tanto os socialistas radicais quanto os liberais são facções políticas alheias ao processo democrático, com baixa influência junto à população e, logo, o que podemos considerar como "ruins de voto". Não é por menos que as facetas políticas mais comuns são as da social-democracia - um misto de liberal político, em posições morais, com intervencionista na área e econômica - e as do conservadorismo - um misto de intervencionista na economia com a adoção de posições reacionárias no campo moral e político. Um olhar mais apurado, entretanto, revela que a maioria esmagadora desses homens públicos não adotam esse posicionamento por convicção, mas por pragmatismo: muitos possuem um passado de militância socialista ou na direita radical. Abdicam deste posto em favor do sucesso de suas propostas, da implementação de seus modelos de gestão. Ocorre que a dose gradual dessas medidas acaba por moldar um regime, um país de acordo com a ideologia majoritária de seus políticos.

Num fenômeno recente, uma esquerda mais radical, declaradamente anti-propriedade, anti-liberdade e nacionalista chegou ao poder conjuntamente. Dentre estes, regionalmente, cito Lula(mais light), Chávez, Daniel Ortega, Evo Morales e Rafael Correa. Apesar do posicionamento extremo, em diversos casos, dominam as instituições políticas e têm poder de império sobre a atividade econômica. Isso ocorreu p159409428_6759edf29bor um motivo bem simples: eles aceitaram jogar de acordo com as regras. Alguns anos de baixa influência, completando etapas de um projeto culminaram na dominante ideologia progressista ou socialista na América Latina. Mérito daqueles que traçaram esta estratégia.

Ao mesmo tempo, a presença das idéias liberais foram perdendo seu pouco espaço, restringindo-se a nichos de internet ou grupos apoiados por institutos estrangeiros. E isso não é só culpa da esquerda, ou do povo. Antes, a maior parcela de culpa é dos próprios liberais.

Enquanto a esquerda comunista articula com a esquerda social-democrata, os liberais não conseguem se entender: parece que o nível de 75% de liberdade econômica não está bom, seria necessário 75,1%. Ou, às vezes, 75,1% não estaria bom: seria necessário 100%. No mesmo sentido, não vale uma aliança com conservadores para barrar uma proposta de reforma agrária, afinal, eles são contra a união homossexual e a legalização das drogas!

Seria um paraíso se, de uma hora  para outra, a população acordasse para os benefícios da liberdade econômica e aderisse à ética dos direitos naturais, mas isso é tão provável quanto acertar na Mega-Sena três vezes com os mesmos números. Blogs, grupos universitários, portais de internet são ótimas ferramentas para a divulgação dos ideais de liberdade, mas nunca constituiram meios eficazes para a implantação de medidas liberais, para barrar devaneios totalitários dos governantes. Sem dúvida, a presença de liberais - sejam os moderados, sejam os radicais - em quaisquer das esferas de influência do poder, seja no setor privado - o que constitui empresas não-dependentes do Orçamento -, seja no setor público, nenhum deles será mais valioso que um legislador combativo, ou que um prefeito competente e de pulso.

Um país com mais liberdade é possível, desde que não tratemos o uso de drogas como o direito à vida, desde que aceitemos a gradação em lugar de uma virada institucional. Em suma: os liberais somente conseguirão progresso quando estabelecerem prioridades e tratarem-nas como tais.